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nagas capa arquitetura do sim
arquitetura do sim 
fragmentos de um diário da ásia

A novela em formato de diário narra a vida de duas brasileiras no Sudeste Asiático, onde trabalham em pequenas propriedades rurais, trocando serviço braçal por estadia. Após meses vivendo em um bangalô nas montanhas do norte da Tailândia, em meio às plantações de arroz do povo karen, um desaparecimento altera o rumo da viagem. Da venda de chá em Hanói à manufatura na bucólica fazenda de Sinchai, delineiam-se paisagens interiores e transformações do desejo.

Edição artesanal com capa de pano serigrafado e serigrafias nas guardas criadas por Germano Weiss. Editora Cozinha Experimental, 2018. 100 exemplares numerados.

Segunda edição em brochura. Editora 7Letras, 2022. Capa e contracapa com pinturas de Vinicius de Assis. Texto de orelha de Mariana Ianelli. 

Arquitetura do Sim por Mariana Ianelli

"O livro impossível, ele existe. Aflora na literatura de tempos em tempos para desconcerto dos especialistas. O livro não engendrado, mas acontecido. Nós o reconhecemos por sua beleza anômala, e, se lhe somos dignos, deixamos que volte a acontecer, que torne a escrever-se infinitamente, que nos atravesse, que nos marque.

A viagem, aqui mapeada em fragmentos de um diário, implica uma jornada também nossa. É como uma sabedoria que só vivendo, o agir entranhado no fazer entranhado no contemplar. É todo o corpo atento, sendo sem pretender ser.

Desde a primeira linha, assim: um despertar para o abrigo do amor no desabrigo de todo o resto. Uma terra estrangeira em nós, na ponta da língua, nas extremidades das mãos. A aprendizagem de como sustê-la na atmosfera sobre finas hastes de bambu e incenso. O amor na sua arquitetura hospitaleira.

A instauração de um reino transparente, a entrar pelos poros e a emanar deles, em seus aromas, que são demoras no tempo. Reino de instantes próprios como danças rituais de antigos deuses. Entre mitos e nomes dentro de nomes, entre rios e caminhos de Buda, no Vietnã, na Tailândia, um reino feito do hálito de histórias que nunca se completam porque é isso que as faz continuar no tempo.

Tudo é trabalho, comparecimento, um orar sem orar, por estar aí, nas minúcias do viver, impregnando e se deixando impregnar. Um diário de fazer acontecer a própria escrita, nua, poderosa na sua frugalidade.

Conta um poeta que dois eunucos chineses ficaram sozinhos num mosteiro. Eram os únicos remanescentes. Estavam sempre juntos, pelos corredores, no jardim, até uma sombra abrir espaço entre eles. O mais velho começava um diário, escrevia para o amante em segredo. Certo dia, o outro encontra o diário debaixo das pedras do jardim e descobre que a sombra, afinal, era o amor guardado em si mesmo.

A história desses amantes chineses parece não menos lendária e magnífica que a deste livro, de duas brasileiras na Ásia, numa aldeia da montanha de Ta Lô, numa fazenda na planície de Phayao. Cada uma tem seu diário. O que lemos é o diário de Júlia, que fala de Joana, desse amor que rebenta na estação seca e continua a respirar, transformado, à chegada das chuvas.

Abrimos o livro como se algo de Joana estivesse do lado de cá. Algo do amante chinês. Como fosse um privilégio nosso (e é) ter acesso a estas páginas, a este abrigo do amor, como um tesouro, como um segredo. Tesouro e segredo também da escrita nua: seu acontecimento."

 

                                                                                             

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